quarta-feira, 7 de março de 2012

Almoço "R" - Da Corrupção à Revisão Constitucional


Almoço "R"
Da Corrupção à Revisão Constitucional



Almoço com o Eng.º Paulo Morais

No passado sábado, 3 de Março de 2012, reunimos no Clube de Leça, com o Eng.º Paulo Morais (ex-VP CM Porto e VP da Transparência Internacional) em formato de brainstorming, para falarmos sobre o "Combate à Corrupção", com o objectivo de aprofundar a nossa reflexão para a proposta de Revisão Constitucional que queremos elaborar.
O Eng.º Paulo Morais começou por explicar o seu discurso contra a corrupção, bem como a sua mais tradicional definição: utilização de poderes delegados em proveito próprio ou dos amigos.
Portugal tem boas condições climatéricas, geográficas, sociais, históricas e de recursos humanos (a sua população), mas como tem uma má organização de sociedade (o seu sistema político), tem péssimos resultados.
Para Portugal se desenvolver precisa de resolver o problema do modelo de organização vigente, pois a matéria-prima (os portugueses) é boa.
Algo que se verifica quando se estudam os índices de percepção da corrupção, estes são inversamente proporcionais aos índices de desenvolvimento humano, e quanto mais enriquecem os países, mais ética na vida em sociedade existe. Pode-se facilmente verificar que para haver desenvolvimento, tem de se reduzir ou acabar com a corrupção. Não há países corruptos que sejam desenvolvidos, nem há países desenvolvidos que sejam corruptos.
Em Portugal a corrupção atinge o seu ponto mais visível no feudalismo da sociedade portuguesa, em que um conjunto de famílias manda no país (Espírito Santos, Mellos, Champaulimauds, etc…), desde há várias gerações, e que descende directamente do modelo feudal dos tempos dos Reis.
Sempre que Portugal deu saltos grandes no seu desenvolvimento, foi quando se retirou poder aos “grandes”, aos poderosos.
Outro dos sinais visíveis da corrupção é a influência do poder dos partidos sobre as máquinas autárquicas, ou mesmo sobre a Assembleia da República.
Para corrigir isto é necessário atacar a corrupção sistémica, nomeadamente esta que é proveniente dos interesses e da influência dos grandes grupos e das famílias que mandam no país. Por exemplo, as sociedades de advogados ligadas aos grandes grupos e a estas famílias, são quem fazem as leis, por via de deputados eleitos nas listas partidárias, que ficam com “buracos legais” para facilitarem a vida a essas famílias e grupos.
Tem de haver uma efectiva separação dos poderes legislativo, executivo e judicial, e as sociedades de advogados tem de se limitar à sua área de actuação (Judicial), o governo tem de se manter no poder executivo (não faz sentido as autorizações legislativas ao governo no início do mandato dos deputados na AR, que esvaziam o poder legislativo da AR), e a Assembleia da República e os deputados tem de facto de assumir o papel legislativo.
A mais importante das corrupções é a que se prende com a corrupção imobiliária ou tráfico de terrenos e ao subsequente financiamento bancário para essas actividades, em que terrenos que nada valiam, com o apoio dos vereadores ligados aos partidos, são valorizados por alterações aos Planos Directores, para favorecerem a valorização desses terrenos.
Esse tipo de corrupção atinge todos os partidos que estejam no poder, nomeadamente ao nível autárquico e ao nível do governo. Porque é que não há efectivo planeamento e ordenamento do território?
A corrupção é o pior problema do país e o urbanismo é a área em que mais se sente. No entanto, o poder local devia ser a escola da democracia, mas não o é, porque os partidos fecharam-no à participação dos eleitores, e com isso promovem as oportunidades de corrupção.
As regras de urbanismo deviam prever um PDM simples e estratégico, um licenciamento simplificado (para diminuir as oportunidades de corrupção), e uma fiscalização mais forte (e melhor remunerada para não ser facilmente corruptível) bem como uma fiscalização da sociedade (em que os vizinhos tem de ser notificados de obras na vizinhança).
Esta corrupção alimentou a construção civil que durante muito tempo foi o motor da nossa economia, foi o motor do negócio da banca por via do endividamento, e dos negócios das famílias e interesses poderosos do nosso país.
Deve-se procurar aumentar a transparência nas funções do estado, promover a simplificação legislativa para diminuir as oportunidades de promoção da corrupção, melhorar o processo judiciário tornando-o mais célere e mais eficiente, e criar mecanismos de ressarcir a sociedade por decisões com dolo ou incompetentes das funções do estado.
O poder dos partidos é muito facilmente corruptível no actual sistema político e isso verifica-se por exemplo, pelos empregos que os partidos dão aos apoiantes e negócios que dão aos seus financiadores, quando chegam ao poder.
Na opinião de Paulo Morais para quebrar isto serão necessárias rupturas para “dinamitar” o sistema, mas em simultâneo é necessário medidas isoladas e complementares que promovam as mudanças necessárias.
Para Paulo Morais é fundamental para promover o combate à corrupção é fundamental mudar o contexto, mudar o sistema político português. A reputação da política e da democracia, está como está, porque os partidos se fecharam sistemicamente, para que ninguém entre na política.
Tem de se conseguir abrir os partidos à participação dos cidadãos, nomeadamente promovendo a participação ao nível local. Essa abertura em última análise promove uma rotação dos políticos (que os actuais querem evitar) e isso traz grandes vantagens à sociedade e promove o combate à corrupção. No fundo acabar de vez com a partidocracia em que vivemos.
É preciso também acabar com as autorizações legislativas da AR para o Governo, no início de cada legislatura, pois estas esvaziam as competências legislativas da AR. E acabar com as comissões de fiscalização compostas por deputados que na sua actividade profissional desempenham actividades relacionadas com a actividade que está a ser fiscalizada. Exemplo: a comissão que fiscalizou o negócio da EDP, é composta por vários deputados ligados ao negócio da compra pela “Three Gorges”.
Em relação à Regionalização, considera que esta faz sentido se houver de facto transferência de competências e responsabilidades do governo central para as regiões. Essas competências ao passar do estado central para as CCDRs (que deviam ser eleitas e não nomeadas como hoje em dia) iriam esvaziar alguns ministérios, e ficando apenas centralizados os ministérios de soberania. Assim por exemplo o Min. da Educação passaria a ser compostos de Direcções Regionais e de uma Direcção Geral donde emanam as políticas e as estratégias nacionais, mas toda a operacionalização seria das Direcções Regionais.
Referiu também que para acabar com a corrupção vai ser necessária a redução do peso do estado, e que o actual caminho do governo aponta nesse sentido, mas reforça que o estado deve deixar de actuar na economia passando sobretudo a ser regulador, mas fortemente regulador.
É fundamental também: acabar com a mentalidade vigente de subsídio–dependência; promover uma economia realmente competitiva e sustentável; uma efectiva reforma administrativa ao nível local; uma clara aposta na educação do cidadão, nomeadamente nos seus direitos e obrigações; aposta no papel preponderante que as universidades podem desempenhar.
Por último referiu a necessidade de se alterar o modelo de financiamento partidário, pois a actual promove a existência de corrupção, pois para além do angariador que ganha cerca de 40% do valor angariado, o financiador por esta via controla os partidos, nomeadamente os vereadores do urbanismo, e conseguem o licenciamento necessário para os seus negócios imobiliários.
Esta é uma área em que o crime compensa, pois o custo de financiamento partidário, não é nada quando comparado com as receitas que os negócios imobiliários podem gerar…



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