segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Aragão, Barcelona, Catalunha - A Busca da Independência


"A decisão de união de Aragão e Castela agrilhoou um povo singular a uma existência incómoda e constantemente posta em causa durante séculos a fio. A repressão franquista ajudou a consolidar o movimento nacionalista catalão e montou o palco para o sentimento independentista que Madrid faz por estancar
Uma é cidade e a outra é região, mas não é raro misturar-se a História de Barcelona com a da Catalunha. Na verdade ainda antes de se começar a ouvir no continente europeu o termo ‘Catalunha’ já o condado de Barcelona existia há mais de três séculos, sob dependência do império franco, e correspondia à região nordeste da Península Ibérica, encaixada entre os Pirenéus e o Mar Mediterrâneo.
A aquisição de um estatuto dominante na região ao longo dos séculos XI e XII permitiu-lhe então gozar de mais de 150 anos de verdadeira independência, com plenos poderes para decidir o seu próprio destino. Foi essa mesma emancipação que levou a liderança catalã a afiliar-se à coroa de Aragão, por via do casamento entre o conde Ramon Berenguer IV e a rainha Petronila, em 1131. A conquista dos reinos de Nápoles, da Sicília e da Sardenha, pelo reino de Aragão, resultou num desenvolvimento económico e demográfico bastante acelerado na região da Catalunha - principalmente no posto comercial de Barcelona - que, mesmo submissa à autoridade aragonesa, conseguiu manter uma posição de relativa autonomia, com leis e instituições parlamentares próprias.
O ano de 1469 marca a entrada definitiva da Catalunha no grande jogo dos tronos da futura Espanha, com a união das casas reais de Aragão e Castela, através do matrimónio entre Fernando I e Isabel. A incorporação num território mais vasto - cujo centro político estava longe de Barcelona - resultou numa natural perda de relevância catalã, que acabou por ser agravada a partir de 1492, fruto das aventuras de Cristóvão Colombo nas Américas. Outrora o centro de um império mediterrânico, monopolizador do comércio na região, a Catalunha e a cidade condal sofreram na pele o deslocamento da atividade económica para o Atlântico e entraram em declínio económico e político.
Cansados de quase dois séculos de subjugação aos apetites económicos do império colonial espanhol e à taxação real excessiva, os catalães aproveitaram a presença dos exércitos de Felipe IV na Catalunha, destinados a combater a França de Luís XIII, para se rebelarem contra a coroa. A revolta durou 12 anos (1640-1652) e incluiu um período em que a Catalunha foi mesmo uma república autónoma sob proteção francesa.
A reocupação espanhola do território marcou o fim da revolução, mas foi incapaz de cortar pela raiz o sentimento de desdém catalão pelo poder central. Terá sido esse sentimento - aliado às vantagens comerciais que lhe oferecia o cenário oposto - que levou a Catalunha a apoiar a Casa dos Habsburgos, ao invés dos Bourbons de Felipe V, na lendária Guerra da Sucessão espanhola. A afronta catalã teve como ponto alto o mortífero cerco de Barcelona - que fez perto de 20 mil mortos -, entre 1713 e 1714, numa altura em que os apoiantes do pretendente austríaco já estavam praticamente alijados da guerra. Com a implantação da linhagem dinástica da Casa de Bourbon veio um castigo severo para os rebeldes da Catalunha. O Parlamento foi suprimido, o uso do catalão pelos funcionários do Estado na região foi abolido, e o sistema legal autónomo do resto do reino foi desmantelado.
A recuperação económica da Catalunha durante o século XIX abriu caminho à revitalização da identidade cultural histórica catalã e encorajou o florescimento de um nacionalismo verdadeiramente catalão, que foi ganhando adeptos ao longo de todo o século seguinte. A criação de um governo regional - a Generalitat -, no seguimento da instauração da segunda república em Espanha, em 1931, ofereceu à Catalunha uma pequena janela de autonomia, mas o espoletar da Guerra Civil, cinco anos mais tarde, marcou o passo para nova opressão do Estado à autodeterminação catalã.
A Catalunha aliou-se às forças republicanas contra o General Francisco Franco e foi um dos principais palcos da resistência antifascista, tão bem retratada na Homenagem à Catalunha, de George Orwell (1938), que retrata a experiência do autor no conflito, entre as fileiras do POUM (Partido Operário da Unificação Marxista).
A vitória do regime franquista em 1939 deu lugar a mais de três décadas de ditadura militar e a uma nova supressão da autonomia, cultura e língua catalãs. Milhares de opositores foram executados e outros milhares foram presos e torturados durante o ‘reinado’ autocrático de Franco, na Catalunha.
O escritor, jornalista, ensaísta, resistente político e criador do famoso detetive Pepe Carvalho,Manuel Vázquez Montalbán - um dos que sofreu duramente às mãos da polícia franquista, devido à sua militância comunista - recriou nos livros, de forma sublime, o ambiente vivido na Catalunha naquela época e uma vez colapsada a ditadura, em 1975, ganhou mesmo protagonismo no debate sobre os nacionalismos em Espanha, encafuados por Franco. «Se o franquismo conseguiu reprimir e ocultar as reivindicações nacionalistas e propor um único nacionalismo espanhol, a democracia do futuro terá a sua saúde e natureza pendentes enquanto não resolver os litígios relativos aos nacionalismos internos e as suas duas opções de fundo: separatismo ou confederação», refletiu, num artigo de opinião publicado no El País, em 2000.
Restaurado o seu estatuto autonómico e reconhecido o catalão como língua oficial do território, em 1979 - reforçado em 2006 - a Catalunha partiu para a consolidação da sua identidade, tradição e culturas únicas, beneficiando da transição democrática, do turismo, dos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) e do próprio clube futebol da cidade condal - FC Barcelona - para assumir com orgulho a singularidade da existência catalã e o seu desejo de autodeterminação, assente nas reivindicações referidas por Montalbán.
Com a crise económica trazida com a primeira década do novo século veio o renascimento dos movimentos independentistas catalães e uma série de braços-de-ferro entre a Generalitat e o Governo de Madrid, motivados, por um lado, pela declaração de soberania do Parlamento regional (2013), pela consulta popular à independência (2014) ou pela adoção de uma resolução preparatória para o projeto secessionista catalão (2015) e, por outro, pelos repetidos chumbos constitucionais e pela firmeza de Mariano Rajoy às movimentações da Catalunha. O próximo capítulo de uma História de resistência é já no próximo domingo. Com ou sem referendo.”
Uma explicação histórica sobre as motivações independentistas dos catalães, por Paulo Santos da Cunha.

Eucalipto Teimoso - O PPD/PSD de Pedro Passos Coelho

"Em 06 de Maio de 1974, no rescaldo da revolução de Abril, Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota, entre outros, fundaram o então PPD.
Foi entendida a necessidade de criar um partido político que se diferenciasse das alternativas existentes à data, de matriz centro-esquerda, isto é, respeitador dos direitos do cidadão, promovendo e defendendo a democracia política, social e económica do Estado de Direito.
A importância, pertinência e urgência de tais valores, aliadas ao carácter exemplar, probo e combativo dos seus protagonistas, levaram a que a sociedade civil neles se revisse e, sobretudo, neles confiasse para, sucessivamente, a governar.
Hoje, infelizmente, assim não o é.
A ideologia e militância partidária no PSD andam de costas voltadas à sociedade civil. E utilizamos esta ordem e não a inversa, porque entendemos ser dever dos partidos acolherem aos apelos dos que os elegem e, sobretudo, dos que por eles são (des)governados.
No caso do PSD o exemplo é paradigmático e nem sequer é recente. Não se tratando de um revivalismo, certo é que o apregoar da memória de Sá Carneiro e dos princípios da social democracia, são curtos, insuficientes e, acima de tudo, espúrios e vazios, porquanto se torna cristalino que há muito que, na prática, o próprio partido deles se distanciou.
Acomodou-se ao epíteto de “partido de direita” e conformou-se com a ideia de alternância política com o outro partido do chamado “centrão”.
Tornou-se mais importante chegar ao poder do que saber governar; Conseguir o voto do que o merecer; Eleger do que ser eleito; Os líderes e o protagonismo individual do que as ideologias e a força do colectivo; A militância cega, seguidista, caciquista e “moldável” do que o pluralismo de ideias, a prossecução de fins sociais, a defesa de valores.
E, pior, o mal que afecta o PSD é transversal, porque funcional, com reflexos graves, perniciosos e potencialmente irreversíveis, com epicentro nas estruturas locais.
O Porto, por tradição, sempre foi palco de mudanças e convulsões, tendo assumido a voz primeira das necessidades de mudança, lutando contra o poder instalado e personificando soluções e alternativas. Muitas vezes o fez sozinho, mas sempre de uma forma leal, responsável e consciente.
Impõe-se que levante novamente a voz e preconize alternativas, devolvendo o PPD aos seus valores, à sua linha programática e, sobretudo, às suas gentes."
* Texto escrito em 2013 por um grupo de militantes do PSD Porto, que a nível individual, chamou a atenção à direcção do partido. Está actual como nunca...