domingo, 3 de março de 2013

MANIFs PORTUGAL


Apesar de não estar em Portugal, acompanhei à distância o desenrolar e o evoluir da situação, que levou às manifestações deste fim de semana, em Lisboa, no Porto, e por esse mundo fora...
Duas ideias sobressaem para mim:
- Os partidos políticos tem definitivamente que se abrir à participação dos portugueses na actividade política, como forma de cidadania activa, para um Portugal com um futuro melhor;
- Os portugueses têm de se deixar de "tangas" e participar na actividade cívico-política, para promover as mudanças que a democracia em Portugal precisa, para termos um futuro melhor.
Aprofundando um pouco as duas ideias, diria que os partidos hoje mais que nunca precisam de se tornar mais abertos à participação de cidadãos escrutinadores da sua actividade interna, quanto mais não seja na escolha dos protagonistas, que os partidos escolhem, para representar a sua base eleitoral.
Os partidos podem fazer muito mais e melhor para estarem abertos a uma participação efectiva dos cidadãos, e se não o fizerem arriscam-se a assistir ao surgimento de movimentos anárquicos, não democráticos, ou mesmo fenómenos de autocracia.
Pensava-se que estaríamos longe dessa situação, mas a verdade é que o sinal dado pelas "Grândolas" dos tempos modernos, é um sinal de insatisfação e apelo à insurreição e à revolução, como se de um novo PREC se tratasse.
E só quem não se lembra do que foi o PREC, é que pode pensar que a solução pode passar por esses moldes, esquecendo-se a maioria dos portugueses, que para melhorar a democracia, não é preciso fazer como na primeira república, e ir de novo para uma ditadura, antes de voltarmos com uma nova democracia melhorada.
A base que temos, é suficientemente boa, para que com o envolvimento de todos se possa construir uma sociedade democrática, num modelo de participação mais aprofundado.
Para isso os portugueses precisam de promover estas mudanças nos partidos, pois elas não acontecem só com os que estão lá dentro.
Nestes últimos dois anos desde que lançamos o movimento "Adere, Vota e Intervém. Cidadania para a Mudança.", cerca de 20 mil portugueses filiaram-se em partidos políticos.
É um número impressionante, mas ainda pequeno comparado com o que de facto precisávamos. Os portugueses dão sempre o exemplo da Islândia e da forma como a justiça islandesa, acusou o ex-Primeiro Ministro, pelos "crimes" que teria cometido aquando da sua governação.
Deviam também olhar para o exemplo da população islandesa, que aceitou participar na melhoria do seu sistema democrático, nomeadamente alterando a constituição, baseando-se numa verdadeiro sistema "demos"-crático.
Os portugueses nunca votaram nem votam nas eleições "dentro" dos partidos políticos, têm opiniões e queixam-se de tudo, mas nunca fazem nada para mudar as coisas, arranjam todas e mais algumas desculpas para ficar de fora, mas nunca encontram um motivo para fazer algo notável e participar.
A grande maioria dos portugueses somos assim e os partidos que nos trouxeram até aqui, dependem deste nosso apoio silencioso, desta grande maioria de portugueses.
O "partido da inércia" (expressão do Paulo Fradinho) é o maior e melhor de Portugal, pois oferece o conforto de pertencer à mediana, a segurança de um grande grupo, em que não se paga quotas, não é necessário falar, nem tem que se votar ou pensar, porque há outros que o fazem por nós, e por isso nós podemos ficar em casa com as nossas mulheres ou maridos, filhos ou pais, amigos ou amigas, a beber um copo, a jantar, a jogar à bola, ou a ver a telenovela...
É muito cómodo ir para umas manifs, mandar uns "bitaites", cantar a "Grândola" vezes sem conta, e esperar que como que por magia, os "outros" mudem as coisas por "nós"!
É que no fundo as manifestações são expressões de desagrado, que nada mudam no poder, e por isso provocam uma sensação de impotência aos cidadãos... é por isso que os cidadãos tem de forçar as mudanças, que todos desejamos para a nossa democracia, nos partidos que são a base da nossa democracia.
"A Democracia é um regime que tem na sua base os partidos (não há nenhuma democracia sem partidos) e é dentro deles que se pode mudar a política e o futuro de um país, ou deixar tudo na mesma..." (João Nogueira Santos).

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