Martim Neves e Raquel Varela protagonizaram uma cena de amor/ódio no Prós & Contras desta segunda-feira, que pôs Portugal a falar do empreendedorismo, de trabalho infantil, de salários mínimos e do desemprego, cada parte a defender o ponto de vista de um e de outro.
Já viram que tantos de nós sobre um mesmo momento temos visões tão dispares sobre o mesmo? Que isto é um sintoma de uma sociedade muito dividida e que procura soluções de formas tão dispares para o mesmo problema?
Vivemos nos últimos tempos em extremos de sociedade... estamos a atravessar uma crise de regime, alguns dizem... a verdade é que os portugueses estamos a enfrentar mais uma barreira civilizacional, e que mais uma vez temos dificuldade em ultrapassar, como historicamente tivemos nos últimos séculos da nossa existência como povo.
E fácil é chegar à conclusão desde logo, que tudo terá a ver com um problema genético dos portugueses: é que somos daltônicos! ;-)
Para nós, tudo é branco ou preto, é escuro ou claro, tons de cinzento vemos poucos, só gostamos do 8 ou do 80. O meu clube é o melhor do mundo e são todos santos, o clube dos outros são todos ladrões e não jogam nada. O meu partido é bom, cheio de gente séria e honesta, o partido dos outros é mau, não tem gente séria e são todos uns ladrões que promovem a corrupção.
No entanto todos sabemos que isto não é verdade. Há gente séria por todo o lado, e também há gente corrupta em cada esquina. E também os há que são mais ou menos sérios, ou que são mais ou menos corruptíveis.
E essa é a grande diferença, é a da visão das coisas, desfocada pelo daltonismo congénito português.
Voltando à Raquel e ao Martim, veja-se que o trabalho infantil numa sociedade moderna não deve ser aceite de forma alguma. Veja-se também que num país civilizado os miúdos com 16 anos estudam, viajam e divertem-se. Veja-se por outro lado, que um miúdo com 16 anos que é empreendedor, deve ser acarinhado, apoiado e apresentado como exemplo de dinamismo que a sociedade como um todo devia ter. Veja-se ainda que os salários mínimos em Portugal (membro da UE dos 12 desde 1985) continuam muito baixos quando comparados com os outros 11. Veja-se que é melhor ter emprego que estar desempregado. Mas sobretudo veja-se, perceba-se, entenda-se que a posição de uns e de outros, que defendem um ponto de vista ou outro, não pode nem deve ser vista como uma posição absoluta, acima das críticas e reparos dos outros. Afinal as posições de uns e de outros, apesar de defensáveis, não são assim tão diferentes... dependem apenas da forma como vemos as coisas... e não as vemos como elas são, mas sim como nós entendemos que elas são.
Por isso, não caiamos na crítica fácil e no apontar de dedo aos outros, pois o mais provável é que além de sermos daltônicos seremos vesgos, e apontamos para o local errado. Vai dai que muitas vezes pensamos que aquilo é amor, mas rapidamente passa a ódio.
Procuremos soluções mais consensuais, procuremos focar-nos na objectividade dos factos, e procuremos "ver" as coisas de todos os pontos de vista, para além do nosso.
Talvez assim possamos contribuir para um Portugal melhor...
Sem comentários:
Enviar um comentário