Recentemente publiquei na minha página do Facebook um vídeo do blog Aventar, com as contradições de Pedro Passos Coelho, e como isto o levará à derrota nas próximas eleições. A propósito desse video foram tecidas considerações diversas sobre a seriedade de Pedro Passos Coelho.
Acredito que haja um certo grau de seriedade em Pedro Passos Coelho.
A questão é que como sempre em Portugal, a mudança é muito difícil de gerir, e ele deixou-se levar por aquilo que lhe venderam e achou que este caminho é que estava certo.
Em relação à seriedade, nenhum português pode dizer que é imaculado, afinal somos latinos, certo?
Nenhum português pode dizer que tem o seu CV pessoal e profissional "limpo" a 100%. Nós portugueses, ao sermos latinos, damos sempre um "jeitinho" ou uma "ajudinha", desde que não seja corrupção.
Quem já não pediu a um agente de autoridade para nos perdoar uma multa?
Os portugueses em geral somos assim, mas depois há os "experts" que dão ajudas e jeito a troco de dinheiro ou prendas. Esses são menos em número, mas ainda assim os há, e muitas vezes bem perto de nós. Os corruptos!
Pedro Passos Coelho não me parece que esteja neste grupo, mas tem "amigos" com as mãos demasiado quentes.
E tem nas mãos a culpa de estar, por um lado a destruir, e a meu ver bem, lobbys muito poderosos, nomeadamente no sector publico, mas também no privado, e por outro lado com os efeitos colaterais dessa destruição de lobbys, e do modelo austeritário de governação que foi seguido, a destruir a economia, mas muito mais do que era necessário para um ajustamento.
O grande erro de Passos foi que juntou duas corrente de pensamento diferentes dentro do PSD numa só, e "a coisa foi mal colada".
Por um lado havia aqueles que dentro do PSD acreditavam (eu incluído) que se conseguia corrigir a trajectória do deficit, em quatro anos (1 mandato), promovendo o crescimento e reduzindo a carga fiscal.
Por outro lado, havia a troika e os que a ela estavam ligados, que queriam reduzir o deficit, reduzindo a despesa (toda a despesa, mesmo a social) e aumentando a carga fiscal.
Claro que os que defendiam a primeira corrente de pensamento criticaram esta opção, pois como está visto, não é possível para lá de um certo ponto aumentar a carga fiscal, e esperar milagres.
O problema foi a junção das duas correntes de pensamento da forma errada.
Passos achou (porque foi levado a pensar assim) que era possível ter resultados em 4 anos (1 mandato) com a segunda receita. O modelo austeritário até pode dar resultados, mas nunca num mandato. Só depois de corrigido o problema do deficit e começando a dívida pública a diminuir, é que poderá haver um alívio e os portugueses sentirem o resultado, e isso demora no mínimo dois mandatos.
Mas Passos enganou-se e com isso enganou os portugueses também, pois em campanha defendeu o que dentro do partido era uma corrente dominante, de redução de deficit reduzindo a carga fiscal e promovendo o crescimento, e na prática em governação fez o seu oposto, por pressão da troika, e dos que junto dele não viam para lá do modelo do FMI (como o seu Ministro das Finanças).
Logo nos primeiros dias de governação chamei a atenção ao "erro de casting" que era ter um Ministro das Finanças, que não esteve de todo ligado à campanha do PSD.
Mais, tenho defendido que o modelo eleitoral, deve obrigar um governante a apresentar a sua equipa governativa, para podermos ter debates entre potenciais futuros ministros das finanças a discutirem o tema das finanças públicas.
Isto é grave para a nossa democracia, pois os temas são todos tratados pela rama, pelo candidato a Primeiro Ministro e não pelas pessoas que mais tarde terão de implementar as politicas.
Quando defendo que temos de mudar o sistema politico português, é também por isto, e por questões como a representatividade.
As Primarias no Partido Socialista foram uma lufada de ar fresco, mas o caminho ainda é longo e estamos muito longe de ter um modelo democrático amadurecido.
E Passos é tanto actor como vitima deste sistema politico, e é por isso que daqui a um ano, deve sair pela porta pequena, quando podia sair pela porta do reconhecimento e agradecimento dos portugueses, por ter conseguido resolver o problema do deficit e ao mesmo tempo ter posto o país a crescer.
É pena pois foi uma oportunidade perdida, e os próximos 5 anos não vão ser fáceis por causa disso. Talvez daqui a 20 anos a coisa esteja resolvida...
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