Quando um deputado do PCP na Assembleia da República perguntou:
"Foi para isto que fizeram o 25 de Abril? É uma vergonha!"
A palavra vergonha não tinha mal, certo?
Quando Jorge Coelho enquanto deputado disse:
"A vergonha é não ter vergonha"
A palavra vergonha não tinha mal, certo?
Quando na constituinte Galvão de Melo disse:
"Sinceramente, não sentis vergonha em presença de tais descolonizações? Vergonha e amargura? Eu, sim."
A palavra vergonha não tinha de certeza mal!
Quando Eça de Queiroz escreveu sobre a Assembleia:
"O parlamento é uma vergonha".
A palavra vergonha tinha muita razão de ser, certo?
Quando Marinho Pinto na tomada de posse como Bastonário da Ordem dos Advogados disse:
"É, pois, o momento de denunciar publicamente a vergonha que alastra... Trata-se de uma vergonha a que rapidamente tem de se pôr cobro..."
A palavra vergonha tinha mal?
"Apesar de se tratar de um órgão fundamental para o equilíbrio de poderes durante a Monarquia, o seu desprestígio era considerável, ao ponto de motivar comentários pouco agradáveis do rei D. Pedro V, que chegou a confessar vergonha da sua existência."
E aquí já se poderia dizer que a Assembleia era uma vergonha, ou não?
Quando este mesmo Ferro Rodrigues disse na Assembleia da República para Passos Coelho:
"O que se passa na TAP é uma vergonha para o seu Governo".
A palavra vergonha não tinha mal nenhum, certo?

A noção de que somos alvo da troça é tremenda. Kafka dizia que não há nada mais estigmatizante que a vergonha. Será que a Vergonha de saber que o deputado do Chega tinha razão, estigmatizou assim tanto Ferro Rodrigues?
https://www.publico.pt/2019/12/12/politica/noticia/votos-propostos-palavra-vergonha-abrem-guerra-ventura-ferro-rodrigues-1897178